Não que tenha de começar “em grande”, mas será evidente a minha tendência para determinado género, e será determinantemente impossível camuflar a minha identificação quase absurda de tão real com a visão de Sofia Coppola, que roça a minha (não obstante não gozar do mesmo talento para a transformar em arte…).
Todo e qualquer filme da “minha” Sofia é antecipado com a ansiedade de uma criança no Natal. Espreito, como se procurasse os embrulhos guardados pelos pais temerosos da descoberta, todos os trailers, músicas já escolhidas, actores seleccionados, entrevistas de “mercado negro”, opiniões, antevisões, antestreias, demonstrações antecipadas em Cannes, críticas (ainda que com a reserva habitual de saber tratar-se de um génio vezes demasiadas incompreendido). Conto os dias e asseguro o ritual: qualquer filme meu é obrigatoriamente visto numa sala de cinema. Desde As Virgens Suicidas, as quais foram lamentavelmente descobertas tardiamente, e portanto, contra todas as superstições e rituais, alugadas e vistas em casa, fiquei presa. Como em qualquer descrição de uma coisa que vemos como só nossa, as palavras não preenchem, deixam espaços vazios. Falar de planos imperfeitos de tão reais, fotografia precisa, banda sonora indubitável e criteriosamente encaixada, personagens de coerência e densidade sem precedentes, é redutor. A Sofia é a Sofia, e qualquer detalhe deixado de fora na descrição não lhe faz justiça. Toda ela é detalhe, pormenor, mas é-o tão desestruturada e impulsivamente que o torna doloroso. Entra, toca, arranca e foge. Não permanece. Como se gritasse, sempre em entrelinhas, que o belo se esvai, a felicidade escapa, e o momento não foi feito para se agarrar. De que valeria se se tornasse rotineiro?!
Este não é um post sobre o Somewhere. Nem um post sobre quanto o Somewhere é o decalque e, simultaneamente, o oposto do Lost in Translation (veja-se ambas as cenas quase finais e as palavras sussurradas a contrastar com o grito desesperante de quem se silenciou demasiado tempo).
Não é um post sobre quanto o Somewhere é a tradução literal da “Homesick” dos Kings of Convenience.
É um post que vai recusar referir a genialidade de quem pega em quotidiano e o transforma em felicidade crua (não sem a dose inevitável de amargura e nostalgia que a caracterizam, por não ser eterna).
Esses estão prometidos à partida. Este blog não seria meu se não pusesse a Sofia na ribalta.
Este é um post mais simples. É um que agradece à amiga que vê Sofia Coppola e pensa em mim.
É reconfortante. E é só. E um só que não é pouco.
Somewhere, I’m sure…